7 de mar. de 2007

Relações sociais se apropriam amplamente da internet

É admirável ver como a engenhosidade humana consegue transportar a intensidade das relações para novas plataformas e em dimensões jamais imaginadas pelos nossos avós.
Por Paulo Santos

Em seu início, a internet era eminentemente um instrumento de entretenimento, de pesquisa e de comunicação de massa. Através dos portais, nos limitávamos a ouvir música, ler notícias e pesquisar informações. O máximo de interação eram as ferramentas ou os sites de bate-papo. Fora isso, era uma via de mão única.

Com o tempo a internet amadureceu e adquiriu contornos inesperados. Ela evoluiu para deixar de se constituir mero reflexo do mundo que vivíamos para se tornar sua extensão. Se ontem a web retratava o mundo à nossa volta, hoje ela se constitui sua parcela onde também vivemos.

Através dela podemos nos expressar emocional, intelectual e até artisticamente e podemos também utilizá-la como instrumento de mobilização de massas (o que Marx teria realizado se em sua época já houvesse a internet?).

Ao derrubar as barreiras que distanciavam as pessoas e criar uma nova plataforma de interação social, a internet rompeu os paradigmas das relações sociais. Ela levou o mundo a também adquirir uma dimensão virtual onde também vivemos, nos relacionamos, emocionamos e somos emocionados.

Uma extensão do mundo que não é estanque mas que, pelo contrário, interage com a vida tal qual a conhecíamos. Nesse novo paradigma, crianças são reconhecidas e admiradas pelos seus pares pelos seus feitos em jogos online. No limite, rixas nascidas no “mundo virtual” já chegaram ao ponto de serem resolvidas “no mundo real”.

Se ontem o playground do mundo eram as ruas onde brincávamos, atualmente o playground do mundo é a web. Nele adolescentes paulistas se juntam com companheiros nordestinos para derrotarem crianças alemãs em jogos online.

Essa nova realidade não se limita ao mundo dos jogos. Pelo contrário, ela é multifacetária. No plano emocional, por exemplo, atualmente expressamos nossas emoções no silêncio eloqüente de mensagens deixadas no Messenger (ao lado dos nossos nicks).

Já, no plano político, manifestamos nossa indignação através de blogs onde conclamamos companheiros anônimos à luta. No plano social expressamos ao mundo nossas preferências através das nossas comunidades do Orkut. Arte é produzida coletiva e anonimamente como no caso do blog postsecret.blogspot.com. Diariamente, centenas de pessoas enviam fotos e imagens ao seu mantenedor Frank Warren, que seleciona as melhores imagens para compor uma verdadeira obra coletiva.
Comunidades

Nesse sentido, as comunidades são uma conseqüência natural desse novo paradigma. Elas claramente são produto da natural disposição humana para interagir em sociedade, assim como das pontes que a internet lançou tanto sobre os diversos povos, como sobre o anonimato das grandes cidades.

Diante desses fatos, não surpreende que hoje estejamos vivendo essa revolução, nem que ela se manifeste de forma especialmente intensa no Brasil. Pelo contrário, considerando a nossa natureza cordial e nossa formação latina, é natural que esse fenômeno tenha encontrado tamanha receptividade aqui.

O que na verdade surpreendente é que esse mesmo fenômeno tenha se manifestado em escala ainda mais intensa nas sociedades asiáticas. Afinal, é notória a dificuldade que esses povos têm para interagirem socialmente. Quando paramos para pensar a respeito somos obrigados a concluir que apenas a distância e o anonimato nas relações assegurados pela web podem explicar tamanha contradição.

É que essas características das relações via a internet possuem a capacidade de romper as barreiras culturais que impedem os asiáticos de interagirem entre si com a mesma facilidade com que nós fazemos de forma direta e pessoal. Com isso ela acaba por viabilizar a satisfação de uma necessidade humana reprimida por fatores sócio-culturais.

Como se pode perceber, os efeitos da internet sobre as relações sociais não estão relacionados à espontaneidade com que elas naturalmente se manifestam nas diversas sociedades. Pelo contrário, a experiência tem demonstrado que eles estão muito mais relacionados à natureza coletivista que as diversas culturas eventualmente possuam do que a qualquer outro fator.

‘O que é natural, afinal, nas sociedades coletivistas “os indivíduos são integrados, desde o berço, em grupos coesos” […] “Como conseqüência, a própria identidade resulta da rede a qual a pessoa pertence”. Essas sociedades se opõem às sociedades individualistas. Lá, “as ligações entre os indivíduos são relativamente fracas e as pessoas” […] “preocupam-se, preferencialmente, consigo mesmo [1](sic)’.

Isso provavelmente explica porque a internet não tem repercutido de forma semelhante nas sociedades anglo-saxônicas e asiáticas. Afinal, no particular, o grande mérito da web é abrir novos canais de manifestação das relações sociais. Em outras palavras, ela não desperta o seu interesse, apenas as viabiliza em novas dimensões.

De qualquer forma, não deixa de ser admirável vermos a engenhosidade humana permitir que a beleza das relações humanas se replique em novas plataformas e em dimensões jamais imaginadas pelos nossos avós.

Um comentário:

Unknown disse...

Vivemos um momento maravilhoso!
Podemos conversar, aprender, pesquisar, nos divertir, fazer cursos, enfim, temos tudo nesse mundo virtual.
Recentemente mandei um e-mail para o Ruy Lindenberg da agência Leo Burnett, pedindo uma orientação para minha monografia. Ele me respondeu rápido e me deu muitas dicas. Será que isso era possível 10 anos atrás?