Intimidado com a chegada ao Brasil do Facebook e do MySpace, que dominam o mercado das redes de relacionamento na web mundial, o Orkut resolveu se mexer. A rede de amigos do Google quer manter a superioridade em um dos únicos países em que é líder absoluto, o Brasil.
A subsidiária brasileira do Google, dono do site, convocou a imprensa do país nesta quinta-feira (1º) para reafirmar uma informação confirmada ontem pela matriz norte-americana. A "novidade": o Google criou uma plataforma chamada OpenSocial, para que programadores externos possam criar aplicativos para o Orkut.
Ou seja, daqui em diante, grande parte das novidades que surgirem na rede social não será fruto exclusivo da criação do Google, que sempre se orgulhou de sua capacidade de inovação.
Desenvolvedores externos (qualquer internauta interessado) farão novos aplicativos no Orkut, sem que o Google precise pagar um centavo por isso.
Ainda não há data para que esses programas estejam disponíveis para os usuários da rede. Por enquanto, a empresa espera analisar a plataforma e ajustar possíveis erros. O link para o OpenSocial estará disponível a partir do início da manhã desta sexta-feira (2) no site code.google.com
"Notícia quente"Inicialmente, o Google tratava do assunto como um grande mistério a ser revelado. O anúncio mundial da plataforma seria realizado na próxima segunda-feira (5), nos Estados Unidos.
Mas, dada a importância incomum do Brasil com relação ao Orkut, a informação seria divulgada com exclusividade para os jornalistas brasileiros nesta quinta-feira, segundo a assessoria de imprensa da companhia.
A notícia, entretanto, deveria ser mantida em sigilo até a semana que vem. Ou, "embargada", no jargão jornalístico. A estratégia foi por água baixo, naturalmente. A informação vazou anteontem e foi amplamente divulgada pela mídia internacional, em blogs especializados como o TechCrunch.
Ainda assim, a empresa teve oportunidade de mostrar toda a sua tecnologia aos cerca de 10 jornalistas que foram conferir a notícia "exclusiva" em uma entrevista coletiva na sede da empresa, em um luxuoso prédio da zona sul de São Paulo.
Executivos da sede do Google, na Califórnia (Estados Unidos), do centro de desenvolvimento de Belo Horizonte e do escritório de São Paulo falaram com os jornalistas por meio de teleconferência.
A única novidade do dia, entretanto, não foi anunciada para a imprensa brasileira. O MySpace resolveu aderir à plataforma do Google, num reforço à aliança para conter o Facebook. Por enquanto, o acordo se restringe a esses aplicativos e não à plataforma de dados dos usuários, por exemplo.
TerceirizaçãoOs desenvolvedores externos criarão os "widgets" nessa plataforma e os softwares ficarão disponíveis para os usuários das redes sociais que aderirem ao projeto. Entre os portais da "aliança" estão Orkut, MySpace, LinkedIn, hi5, Friendster, Plaxo e Ning.
Os programadores poderão lucrar por meio de anúncios nas páginas em que os aplicativos estiverem inseridos. E o Orkut poderá oferecer milhares de "programinhas" para seus usuários, sem precisar investir capital nesse desenvolvimento.
A idéia não é nova. O Facebook utiliza o sistema desde maio. Apesar disso, o Google nega que esteja atrasado em relação aos concorrentes.
"Não é tanto tempo. O Facebook lançou isso há apenas cinco meses. É apenas o começo de uma longa caminhada. Sentimos que era importante lançar uma plataforma que não fosse importante só para o Google, mas para toda a internet", afirmou Joe Kraus, diretor de produto do Google.
Repete-se aí o slogan informal da companhia ("Don't Be Evil"), de que a empresa não está preocupada apenas com o próprio crescimento, mas com a rede como um todo.
Na apresentação aos jornalistas, Kraus usou como exemplo desses aplicativos um sistema que permite aos usuários das redes ver e ouvir as músicas e clipes preferidos dos amigos. Poderia haver também um sistema de "customização" das páginas de perfil dos internautas, como acontece no MySpace.
Nova ferramenta, velho problemaDe acordo com o Google, os programinhas não serão checados antes de entrarem no ar. O monitoramento será posterior à publicação.
Isso reforça um velho problema do Google, que tem enormes dificuldades em monitorar as páginas do Orkut e deletar conteúdos ilícitos.
Agora, além de conferir se os usuários estão comentendo crimes no site, haverá também a necessidade de verificar se os softwares possuem conteúdo inadequado.
Curiosamente, no mesmo dia em que a nova ferramenta foi divulgada no país, um juíz de Cuiabá obrigou a companhia a excluir uma comunidade ofensiva do Orkut, sob ameaça de multa.
Fonte: Folha Online