4 de mar. de 2007

Splog, você ainda vai visitar um.

Com a popularização do e-mail, nasceu o spam – mensagem com propaganda não solicitada enviada aos milhões de uma fonte única para uma série de endereços eletrônicos aleatórios. Agora, com a popularização do blog – uma espécie de diário virtual simples e fácil de criar e administrar –, nasceu o splog.

Os splogs – uma fusão das palavras spam com blog – são sites criados com duas funções básicas: atrair cliques de internautas desatentos em links patrocinados (rendendo assim alguns centavos ao criador do esquema) ou redirecionar o internauta para outras páginas, o que, em tese, poderia aumentar o Page Rank* do destino, fazendo com que ele aparecesse primeiro nos resultados dos populares sistemas de busca.

Diferente de um blog comum, o splog não tem o objetivo de informar, polemizar, divagar ou politizar. Seu objetivo é gerar dinheiro – seja enganando o usuário de Internet ao convencê-lo a clicar em links patrocinados ou aumentando a popularidade de sites de forma desonesta.

Como funciona um splog

O splog, diferente do spam, chega ao internauta não pelo e-mail, mas sim nos resultados dos populares sistemas de busca. Para que o splog pareça atraente às ferramentas que varrem a Internet indexando sites e blogs para criar os índices dos buscadores, o criador do falso blog insere uma série de palavras que chamam a atenção dessas ferramentas.

O processo pode parecer contraproducente, afinal, criar um blog, mesmo sendo fácil, leva tempo. Registrar links patrocinados e postá-los no diário virtual, atribuindo uma conta bancária para o depósito de certa quantia – em centavos – sempre o que o link for clicado complica ainda mais o processo. No entanto, o golpe é colocado em prática por robôs virtuais – os bots -, o que acelera processo e o torna comercialmente interessante.

Enquanto os splogs vão ganhando cada vez mais adeptos entre os golpistas virtuais, eles preocupam cada vez mais usuários e sistemas de busca, que dependem da precisão dos resultados oferecidos para garantir o retorno dos usuários e a receita que lhes mantém funcionando. Para um Google ou um Yahoo!, não é interessante ter um splog entre os resultados de busca apresentados ao usuário.

O tamanho do problema

De acordo com o Technorati, órgão tido como um dos mais confiáveis na indexação dos “diários virtuais”, atualmente há mais de 63 milhões de blogs ativos. Diariamente, cerca de 175 mil novos blogs são criados e 1,6 milhão atualizados - o que dá uma média de 18 atualizações por segundo. Quantos destes seriam splogs? É difícil dizer, mas pesquisas independentes dão uma noção do tamanho do problema. Um estudo publicado na Revista Wired conduzido por Tim Finin, pesquisador da Universidade de Maryland, em Baltimore mostra que até 56% de todos os blogs ativos escritos em inglês podem ser considerados splogs.

São tantos os splogs que já existem sistemas de busca dedicados exclusivamente a reunir este tipo de site: um deles é o SplogSpot. Ao se buscar iPod no índice, por exemplo, o usuário vai se deparar com uma extensa lista de 238 splogs indexados. Ou seja, quando o usuário procura informações do famoso player da Apple, ele pode acabar em um desses sites e não em um que realmente traga informações, detalhes ou imagens sobre o produto.

Outro site que traz um índice de splogs que é constantemente atualizado é o SplogReporter. Para os mais interessados no assunto há inclusive um RSS que o usuário pode assinar para ser notificado sempre que um novo splog é localizado e identificado (o que acontece com enorme freqüência). Baixar infinitas listas com os índices também é uma opção para os que querem ter uma noção da quantidade de splogs que poluem a blogosfera.

Como identificar os splogs

Antes de combater, é preciso saber identificar um splog. Afinal, qual é a cara desses diários falsos? Algumas características básicas ajudam na identificação. Por exemplo, uma URL com mais de duas palavras desconexas ligadas por hífens pode ser entendido como um sinal. Trata-se de uma técnica dos sploggers para atrair os “crawlers” – ferramentas que varrem a Internet indexando sites – dos sistemas de busca.

Pouquíssimos posts ou muitos posts concentrados em um mesmo mês (em alguns casos em uma única semana) também são bons indícios. Isto acontece porque os programas que criam os falsos blogs – chamados de bots – preenchem os sites com conteúdo de uma vez só e têm dificuldade para alterar a data dos textos.

Números excessivos de “links patrocinados” sem relacionamento com o suposto tema do blog também são um sinal. A presença de conteúdo desconexo nos posts ou de muitas citações – com trechos de livros, notícias e discursos – tudo de forma extremamente desorganizada, também podem servir de indício. A presença de palavras “populares” nos títulos e subtítulos, bem como nomes de celebridades e de marcas ou produtos conhecidos sem que haja relação entre eles também são sinais de um site suspeito.

Como combater os splogs

Para combater o problema, grandes portais de blogs têm recorrido às mais diversas ferramentas – desde a simples denúncia feita por internautas que suspeitam de um blog, até elaborados sistemas de auto-detecção. A Blogger do Brasil, por exemplo, tem uma página dedicada exclusivamente ao assunto. Além de explicar o que é um splog, o texto detalha algumas das providências tomadas pelo serviço para combater o problema. O mais simples é a denúncia feita por usuários – que devem usar o recurso “Flag” disponível na parte superior direita da barra de ferramentas do Blogger. Uma vez “Flagged”, o blog será averiguado pelo serviço que determinará se o site é ou não um diário falso.

Já as ferramentas de auto-detecção funcionam de forma mais complexa. Entre elas, destacam-se o uso de “algoritmos de classificação de spam automatizado que mantêm blogs de spam [os splogs] fora do NextBlog e da lista de "recém-publicados" no painel”, como informa a página do Blogger que trata do assunto.

Ou seja, blogs identificados automaticamente como endereços usados para fins diferentes que não o de comunicar e trocar idéias não aparecem na lista dos “recentemente atualizados”, exibidos na home do serviço. Os mesmos algoritmos que identificam os possíveis splogs também ajudam o Blogger a dificultar o uso de bots que simulam atualizações nos falsos diários.

É fácil encontrar pesquisas com índices altíssimos de crescimento da blogosfera. Porém, fica cada vez mais claro que muitos dos blogs destas pesquisas não são ferramentas de expressão, mas sim mais uma forma encontrada pelos golpistas da Rede para juntar dinheiro.

* Vale lembrar que o Page Rank, criado pelo Google, é um sistema que atribui notas de 0 a 10 a páginas na Internet de acordo com o a quantidade de links que remetem ao seu endereço. Os splogs fraudam este sistema criando "link farms" (fazendas de links) - um conjunto de blogs falsos dedicadas apenas a linkar um mesmo endereço com o objetivo de aumentar o seu Page Rank de forma desonesta.

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