À medida que anunciantes e leitores vão deixando de lado os jornais tradicionais, buscando notícias na internet, os jornais americanos começam a ver as edições digitais como solução para o ostracismo.
As versões on-line, a princípio consideradas a maior ameaça ao jornal impresso, podem aparentemente se tornar a salvação desse veículo.
As mais recentes baixas decorrentes de uma crise que parece não ter fim foram um corte de pessoal de 17% no Philadelphia Inquirer, o anúncio do Boston Globe de que fechará as portas dos últimos três escritórios internacionais que ainda mantinha e a busca desesperada do Los Angeles Times por uma nova direção.
Há anos que os jornais vêm acompanhando a queda vertiginosa das vendas. A Newspaper Association of America (NAA) divulgou recentemente que o número de leitores caiu 2,8% entre abril e setembro de 2006 em comparação com o ano anterior.
"A indústria da informação está levando a internet mais a sério, e isso só deve se intensificar ao longo de 2007". É o que afirma o Project for Excellence in Journalism (PEJ) no relatório "State of the News Media in 2007".
"Há cinco anos, eu não saberia dizer quem estaria à frente na produção de conteúdo - poderia ser o Google, ou o Yahoo ou a Microsoft, ou seja, os gigantes da mídia", disse Tom Rosenstiel, diretor do PEJ.
"Hoje em dia, tudo indica que a redação do New York Times vai sobreviver, que a velha redação como a conhecemos será também a redação do futuro", acrescentou.
Em 2006, o aumento médio da freqüência de leitores nos sites dos grandes jornais foi de 22% - 56,4 milhões, segundo a NAA. O investimento dos periódicos na internet nunca foi tão intenso.
"Eu não sei se continuaremos imprimindo o New York Times em cinco anos, e quer saber? Não me importa", declarou em janeiro o presidente do grupo, Arthur Sulzberger Jr., explicando que "meu sentimento sincero é de que os jornais impressos permanecerão ainda por muito tempo. Mas temos que nos preparar também para o contrário".
Cada jornal tem sua estratégia própria.
Graças às duas equipes editoriais separadas que mantém, o Washington Post criou uma nova identidade on-line, oferecendo aos leitores uma versão mais internacional do que a edição impressa.
Já no New York Times, a opção foi integrar as equipes das versões impressa e multimídia para diponibilizar uma reprodução do jornal na edição on-line.
"Por um lado, isto reforça a posição do New York Times, pois acreditamos que quanto mais oferta de informação houver por aí, mais as pessoas devem confiar e buscar uma fonte confiável como o NYT", explicou Vivian Schiller, do NYTimes.com.
"É uma oportunidade para nós", completou.
No Dallas Morning News, a revolução aconteceu em janeiro de 2006. Desde então, metade dos fotógrafos passou para o audiovisual e a cada dia cerca de seis vídeos são publicados on-line, explicou Chris Wilkins, diretor adjunto de fotografia.
O clima no departamento editorial, reduzido pela metade em dois anos, passou por uma mudança radical. Wilkins acredita que, nos próximos dez anos, "o jornal será apenas um subproduto da web, é inevitável".
Para outros, a questão do lucro paira acima dos outros problemas. Com algumas poucas exceções, a maioria dos jornais permite acesso livre às versões virtuais e outros serviços oferecidos pela internet, contando com o retorno da publicidade on-line.
E a publicidade on-line está em crescimento, de fato - foi registrado um aumento de 31,5% em 2006, segundo a NAA - mas ainda representa parcos 5,4% de toda a receita dos anunciantes nos jornais.
"Já estava claro dois anos atrás que a publicidade on-line não seria suficiente", disse Rosenstiel. "Assim sendo, a questão mais importante que as empresas jornalísticas devem trabalhar é como fazer a internet se tornar mais rentável".
"A sobrevivência e a saúde do jornalismo vão depender do êxito da área comercial em elaborar um novo modelo econômico para subsidiar a criatividade das redações", concluiu.
Com as recentes e cada vez mais comuns compras e parcerias, o futuro parece incerto.
Alguns, como Rosenstiel, sugerem que parcerias entre provedores e jornais, assim como com as TVs a cabo, devem contribuir para o surgimento de um novo modelo para o negócio.
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