27 de jun. de 2007

O iPhone faz jus à sensação

David Pogue

E bota sensação nisso! Nos últimos seis meses o iPhone da Apple foi o tema de 11 mil reportagens impressas e mostra 69 milhões de resultados no Google. Os cultuadores estão acampados em frente às lojas Apple. Os blogueiros o chamam de "Jesus-fone". Tudo isso antes de um único consumidor jamais ter tocado na coisa.



A câmera de 2 megapixels tira ótimas fotos, mas se o tema estiver imóvel e bem iluminado

Então, como ela é? Afinal, grande parte da sensação e algumas críticas se justificam. O iPhone é revolucionário; e tem defeitos. É substância, é estilo. Faz coisas que nenhum telefone jamais fez; e não tem algumas características encontradas nos telefones mais básicos.

A menos que você tenha estado em um tanque incomunicável nos últimos seis meses, você já sabe o que é o iPhone: um pequeno e lindo computador de mão cuja tela é um vidro sensível ao toque.

Os modelos de US$ 500 e US$ 600 têm 4 e 8 gigabytes de armazenamento, respectivamente -espaço para cerca de 825 vídeos ou 1.825 músicas. (Em ambos os casos, 700 megabytes são ocupados pelo software do telefone.) É muito dinheiro; mas o preço inclui um telefone celular, um vídeo iPod, terminal de e-mail, navegador da web, câmera, despertador, agenda do tipo Palm e um grande símbolo de status.

O telefone é tão fino que faz os Treos e BlackBerrys parecerem obesos. O vidro fica sujo, mas pode-se limpar na manga que o vidro não arranha com facilidade. Eu andei por aí com um iPhone no bolso durante duas semanas, nu e desprotegido (o iPhone, não eu), e não há uma marca nele.

Mas a maior façanha é seu software. É rápido, bonito, sem menus e muito simples de operar. Você não pode se enganar, porque o único botão físico abaixo da tela sempre abre a página Home, cheia de ícones para as 16 funções do iPhone.

Você provavelmente já viu anúncios da Apple, mostrando como as coisas na tela têm uma física própria. As listas se abrem com um movimento do dedo, as capas dos CDs podem ser folheadas, as mensagens de e-mail caem numa lata de lixo. Claro, é um chamariz para os olhos. Mas torna divertido usar o telefone, o que não é algo que se pode dizer da maioria dos celulares.

A Apple escolheu a AT&T para ser a operadora exclusiva do iPhone nos próximos anos, em parte porque a companhia deu à Apple carta branca para mudar tudo o que as pessoas detestam nos celulares. Por exemplo, quando o telefone começar a ser vendido, nesta sexta-feira, você não vai assinar o serviço numa loja, sob a pressão dos vendedores. Poderá verificar e escolher o plano do seu agrado no software iTunes no seu computador.

Melhor ainda, o serviço ilimitado de Internet acrescenta apenas US$ 20 por mês aos preços do plano de voz da AT&T, cerca da metade do que pagam os proprietários de BlackBerry e Treo. Por exemplo, US$ 60 dão direito a falar 450 minutos, enviar 200 torpedos, mais internet ilimitada; por US$ 80, o dobro do tempo de conversa. O iPhone exige um desses planos de voz e Internet e um compromisso de dois anos.

No iPhone você não verifica as mensagens de voz; ele verifica você. Um toque no botão revela as mensagens, listadas como e-mails. Não é preciso discar, nem senha - e não há aquelas gravações robóticas: "Você... tem... 20...uma... mensagens".

Para atender uma ligação, você pode tocar Atender na tela ou apertar o microfone microscópico no cordão do fone de ouvido branco. De qualquer maneira, a música ou o vídeo param até você terminar de falar (quando você está escutando música, aquele aperto pára a canção; um duplo aperto avança para a próxima música). Mas fazer uma ligação pode exigir até seis passos: acordar o telefone, destravar os botões, chamar a tela Home, abrir o programa Telefone, ver as Chamadas Recentes ou a agenda de números rápidos e escolher um nome. A qualidade da ligação é apenas mediana, e depende da força do seu sinal AT&T.

O correio eletrônico é fantástico. As mensagens que entram são totalmente formatadas, com gráficos; você pode até abrir (mas não editar) documentos Word, Excel e PDF.

O mais incrível, porém, é o navegador da web. Não é o browser reduzido e claustrofóbico do Meu Primeiro Celular; tem os layouts completos da web, com fontes e tudo, encolhidos para caber na tela. Você percorre com a ponta do dedo, muito mais rápido do que as barras de rolagem. Pode dar dois toques para ampliar um bloco de texto para leitura, ou girar a tela 90 graus, o que amplia a imagem para ocupar toda a tela.

Finalmente, você pode ampliar uma página da web - ou um e-mail ou uma foto - afastando o polegar e o indicador sobre o vidro. A imagem aumenta como se estivesse numa folha de borracha.

O iPhone também é um iPod. Quando está em sua base de carregamento o iPhone absorve músicas, vídeos e fotos do seu computador, Mac ou PC. Fotos, filmes e até vídeos do YouTube ficam espetaculares na tela muito luminosa de 3,5 polegadas e alta resolução. O módulo Google Maps permite ver mapas de ruas ou fotos aéreas de qualquer endereço. Ele também pode fornecer instruções de direção. Não é o verdadeiro GPS - na verdade o iPhone não sabe onde você está-, por isso você bate na tela quando quiser a próxima instrução.

Mas que tal isto para um prêmio de consolação? Notícias ao vivo e gratuitas sobre o tráfego indicadas por ruas codificadas por cores no mapa. A Apple diz que uma carga de bateria é suficiente para oito horas de ligações, sete horas de vídeo ou 24 horas de áudio. Meus resultados não foram tão impressionantes: eu consegui cinco horas de vídeo e 23 horas de áudio, provavelmente porque não desliguei o telefone, Wi-Fi e outras opções, como a Apple fez nos testes. Na prática, você provavelmente acabará recarregando dia sim, dia não.

Então, sim, o iPhone é incrível. Mas não, não é perfeito. Não tem "slot" para cartão de memória, nem programa de bate-papo, nem ligação por voz. Você só pode instalar novos programas da Apple; outras companhias podem criar miniprogramas feitos especialmente para o iPhone na web. O navegador não suporta Java nem Flash, o que o priva de milhões de vídeos da web.

A câmera de 2 megapixels tira ótimas fotos, desde que o tema esteja imóvel e bem iluminado (há amostras em nytimes.com/tech). Mas não pode gravar vídeo. E você não pode enviar mensagens de foto (MMS) para outros celulares. A Apple diz que a bateria começa a perder capacidade depois de 300 ou 400 cargas. Algum dia você terá de mandar o telefone para a Apple para trocar a bateria, como faz agora com um iPod, por uma taxa.

Depois há a pequena questão da digitação. Tocar as minúsculas teclas virtuais na tela é frustrante, principalmente no começo. Duas coisas tornam a tarefa tolerável. Primeiro, um software muito inteligente se oferece para completar as palavras por você, e quando você digita a letra errada ele descobre qual palavra você queria escrever. Nos dois casos, tocar na barra de espaço confirma a sugestão.

Segundo, o folheto de instruções o encoraja a "confiar" no teclado (ou, como disse brincando um gerente de produto, "usar a Força"). Parece besteira da nova era, mas funciona; quando você pára de se preocupar com cada letra e simplesmente vai em frente, a velocidade e a precisão aumentam consideravelmente. Mesmo assim, a digitação de texto não é o maior trunfo do iPhone. O BlackBerry não vai desaparecer tão cedo.

O maior problema é a rede da AT&T. Em um estudo da "Consumer Reports", o sinal da AT&T ficou em último ou penúltimo lugar em 19 das 20 maiores cidades. Meus testes em cinco estados confirmam isso. Se o slogan da Verizon é "Está me escutando agora?", o da AT&T deveria ser "Sua voz está sumindo".

Depois há o problema da Internet. Quando você está em um "hot spot" de Wi-Fi, entrar online é rápido e satisfatório. Mas do contrário você tem de usar a antiga rede celular EDGE da AT&T, que é terrivelmente lenta. A homepage do "New York Times" leva cerca de 55 segundos para aparecer; a da Amazon.com, dois minutos. Você sente saudades do modem dial-up.

Essas desvantagens podem ser fatais para algumas pessoas. Por outro lado, tanto o iPhone como sua rede vão melhorar. A Apple indica que, ao contrário de outros telefones celulares, este pode e será melhorado com atualizações de software grátis. Isso é bom, porque eu encontrei alguns pequenos problemas e tive um travamento. (Também há um enorme espaço vazio para uma série de novos ícones na tela Home.) Um futuro modelo iPhone poderá explorar a nova rede de dados da AT&T, muito mais rápida, que já está disponível em 160 cidades.

Mas mesmo na versão 1.0 o iPhone ainda é a peça de eletrônica mais sofisticada e diferente que surgiu em muitos anos. Ela faz tantas coisas tão bem e de modo tão agradável que você tende a perdoar seus defeitos. Em outras palavras, talvez a onda do iPhone não seja só uma onda. Como disse certa vez o jogador de beisebol Dizzy Dean: "Se você realmente fez, não é contar vantagem".

Nenhum comentário: