Um paulistano que conheço havia passado uma semana no Rio imerso nos chiados e erres dos cariocas. Mas mal o avião pousou em Congonhas, ouviu uma passageira dizer - 'É que eu trabalho no departameeeiiinto de marketing?'. Bem vindo a São Paulo, pensou, sentindo-se em casa. A inconfundível voz italianada, meio nasal, não deixava dúvidas - estava chegando na cidade.
São Paulo é famosa por esse modo de falar. Foi o sotaque que imortalizou em todo o país a propaganda do shampoo Colorama - 'Você se leeiinbra da minha voz? Continua a mesma, mas os meus cabelos, quanta difereiinça?'. Para mim, rendeu anos de zoeira dos primos cariocas, embora eu insistisse que não falava assim.
Puxei o assunto sotaque por ter ouvido no rádio o spot da Samsung. Nele, sempre que perguntada onde estava algo, a mulher repetia - 'Se tiver, tá na Samsung'. O spot parece forte, embora uma versão repaginada do 'Põe na Consul'. Tanto é que só ouvi uma vez, não lembro detalhes, mas a marca se sobressaiu. Só que o nome do fabricante me soou totalmente paulistano - 'Samsuunngui'. Talvez para contrabalançar o filme ('Por acaso tá escrito lavadora na minha testa?'), protagonizado por uma carioca. Não conheço as intenções da marca, talvez seja proposital.
Seja como for, estou curiosa para ver a reação do consumidor. Hoje já não dá para determinar se um sotaque repele ou atrai - depende da peça, do modo apresentado, de muitas variáveis. Pelo sim ou pelo não, eu (que segundo meu pai só consigo falar o gaúcho das novelas) continuo fascinada por sotaques, desde que autênticos - do embaixador carioca que modera esses e erres, à quatrocentona paulista que afina os lábios e diminui a boca; do adolescente de 'Malhação', que prolonga o som do 'a' até derrubar o til sobre o 'o', ao anasalado sotaque 'das mina' de Sampa.
Por Angela Marsiaj
Ah! o comercial do Colorama:
E da Samsung:
Fonte: Blue Bus
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