10 de out. de 2007

O Non Sense da Censura

Setembro de 1974 Andrés Bukowinski, polonês naturalizado argentino e recém chegado ao país, proprietário da ABA Filmes, era convocado pela Divisão de Censura da Polícia Federal para tratar de assuntos relativos ao comercial de lançamento do absorvente Sempre Livre no Brasil, produto da Johnson & Johnson. Naquele tempo a propaganda estava sobre censura prévia, os “story boards” deveriam ser remetidos ao referido departamento para aprovação e numa segunda etapa, o filme ja finalizado, para a liberação definitiva. Mas o comercial da Aba Filmes, criado pela Young & Rubicam, empacou no detalhe de um “close” do produto, o exato momento em que a atriz Marilia Pêra tirava o absorvente e mostrava o dispositivo aderente à calcinha; essa era a novidade tecnolôgica que o diferenciava do Serena e outros produtos similares. Tudo foi resolvido com uma conversa amigável, cafezinho na mesa, entre o produtor e o delegado, mas o filme ia ao ar com o corte do “close”, apenas um detalhe, mas que naqueles idos de repressão significava muito. Falar de aborto, por exemplo, rendeu à Realidade, publicação da Abril, a apreensão da revista; uma capa de Ele, publicação da Bloch ganhou uma tarja preta da censura no púbis da modelo. Dentro dessa lógica, pautada pelo non sense, mostrar a asa de um absorvente de perto era demais.

O comercial foi uma criação de Alan Zweibel, diretor da Y&R, mais tarde celebrizado no cinema mundial como roteirista e produtor de “O Anjo da Guarda” e “História de Nós Dois”, dentre outras comédias. Comercial inspirado no clássico de François Trufautt “La Nuit Americaine”, com Jacqueline Bisset como protagonista. “Oscar” de Melhor Filme Estrangeiro, naquele ano de 1974; repercutia e fazia sucesso no Brasil. O cenário do comercial lembra até algumas cenas do filme de Trufautt que os críticos denomiraram de “metalinguagem”, “um filme dentro de outro filme”, “os bastidores da sétima arte”, entre outras apreciações. Ou seja, a intenção mesmo de Zweibel era promover o produto a partir de uma referência de cinema inovadora e nesse contexto se encaixava Marilia Pêra. A atriz acabara de representar na TV a Manuela da SuperManuela, novela das 19 horas dirigida por Walter Negrão, exibida na Globo. Uma Supermulher, o personagem certo para um produto inovador. Assista ao vídeo, sem o “close” , que teve direção e fotografia de Andrés Bukowinski:



Fonte: Almanaque da Propaganda

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