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Em 5 de agosto de 1955 morreu Carmem Miranda, vítima de um enfarte. Informados da triste notícia em edição extra do “Repórter Esso“, no dia seguinte, os brasileiros depararam-se com um anúncio na página 64 da revista semanal O Cruzeiro (capa de 6/8/55), que rodara no dia anterior, onde a “Pequena Notável” testemunhava a favor do sabonete Lever: “Mantém a pele maravilhosamente jovem.” A imagem sorridente da estrela, que conquistara a admiração do mundo, no anúncio criado pela Lintas, contrastava com a dor de milhares de fãs nesse momento de comoção nacional. Lá estava ela, em anúncio de meia página, blusa de crochê, cabelos ao natural, sem o figurino tropicalista que marcara a sua carreira, protagonista de uma das maiores campanhas da publicidade mundial: “Nove entre dez estrelas de Hollywood usam sabonete Lever.” O anúncio que Carmen Miranda não viu é o único que eu conheço, entre mais de 20 publicados em jornais e revistas do Brasil e do mundo, que exibe os cabelos da artista ao natural. O figurino de baiana e o exótico dos penteados eram a norma, mas, nesse caso tinha de ser diferente, pois tratava-se de vender um produto de higiene pessoal, que deveria transparecer a imagem de quem acabara de tomar um banho. E foi essa aparência de cidadã comum, feliz com a vida, sem o peso da mídia sobre a cabeça, que O Cruzeiro exibiu no anúncio. Naquela manhã em que a revista chegava às bancas e aos seus assinantes, o Rio de Janeiro exibia apenas o luto constrito de milhares de cariocas que custavam a acreditar no fim de um mito.
Fonte: Almanaque da Comunicação
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