Nos dias de hoje fala-se muito sobre a Web 2.0 e como ela mudou e mudará a forma das pessoas interagirem online (acho engraçado, porque quando a televisão iniciou transmissões via satélite ou em cores, por exemplo, ninguém falou em TV 2.0 ou coisa parecida. Acredito que se você precisa explicar a piada é porque há um problema. Mas enfim, são outros tempos...).
Conteúdo, tempo, espaço e plataforma. A desconexão do primeiro em relação aos outros três é a melhor definição que já ouvi para explicar a descentralização e aumento do conteúdo gerado pelo consumidor, um dos pilares do momento atual por que passa a internet (a tal Web 2.0). Esta versão foi dada por Nigel Morris, ceo global da Isobar, em um evento semana passada em São Paulo. Explicando melhor: por exemplo, um anúncio é veiculado no intervalo da novela, porque sabemos que ela é exibida todo dia, no canal X às vinte horas e transmitido pela televisão. Para poder continuar vendo a novela, o consumidor é obrigado a assistir ao comercial e, por isso, estará ali após o intervalo, o que estimula outros anunciantes a fazerem o mesmo – veicular uma campanha. Esse é o princípio básico da publicidade. Porém, se o conteúdo pode ser exibido a qualquer hora, sob demanda e em diferentes plataformas, rompe-se a cadeia de valor.
Como diz o ditado, "em time que está ganhando não se mexe". Será? Tem certeza de que você vai deixar de lado as mais de um bilhão de pessoas que acessam a internet globalmente, incluídos aí as 100 mil novas pessoas que criam um blog diariamente, para anunciar apenas no horário nobre da TV aberta? No Brasil tudo anda mais lentamente e assim tem sido com o crescimento dos investimentos publicitários, mas a migração das verbas é inexorável. Porém, sem dúvida há de se reconhecer que acessar a internet ainda não é a coisa mais fácil do mundo para muita gente.
Sempre afirmei que o maior desafio para o sucesso da internet é "desaparecer" no dia-a-dia das pessoas. Uma outra forma de expressar isso: quando você vai a um hotel, acha a coisa mais normal do mundo receber um cartão magnético – e não uma chave – para abrir a porta do seu quarto, não é? Mesmo sabendo que usar e-mail já é rotina para a maioria dos executivos e trabalhadores de todos os níveis e que o imposto de renda segue via internet para a Receita Federal, acredito que o futuro da web precisa ser muito mais simples do que é hoje, mas, por mais contraditório que isso possa soar, a "ruptura" terá de ser de forma suave, até mesmo imperceptível, para que a adoção seja em larga escala.
Sem dúvida o telefone celular caminha para ser o grande catalizador dessa mudança, principalmente pela sua portabilidade (e confesso que não sou o maior entusiasta da convergência na forma que se fala por aí). Mas, do lado do usuário, acredito no comando de voz como o principal fator para uma verdadeira quebra nos padrões atuais de navegação. Há uma oportunidade real para que a universalização do acesso (que é um problema muito mais político do que qualquer outra coisa) possa ser feita de forma muito mais simples do que o http://www.endereçodosite.com.br que temos que digitar hoje em dia, o que daria novas perspectivas para a maioria da população que não sabe ler ou escrever. Daí minha desconfiança no chamado LapTop de 100 dólares (que pelo que consta custará mais que isso), criado pelo guru Nicolas Negroponte. Ele, que previu o futuro tão bem quanto era um estudioso ativo no MIT MediaLab, parece ter perdido a inspiração ao se tornar um burocrata de gabinete.
Enfim, é consenso que falar é muito mais fácil que digitar, assim como receber mensagens através de imagens em movimento é muito mais efetivo que ler. Por isso, de certa maneira, a comunicação online do futuro precisará ser uma volta às raízes, já que a primeira forma de transmissão era através das histórias contadas pelo ancião da tribo e que passava de geração após geração oralmente, sem nenhum registro escrito. Lembra-se do famoso marketing boca-a-boca, que tanto se comenta por aí? Pois é.
Os especialistas e futurólogos de plantão falam na Web Semântica – que, como explica a Wikipedia (um pilar da internet 2.0), "interliga significados de palavras e tem como finalidade conseguir atribuir um sentido aos conteúdos publicados na internet de modo que sejam perceptíveis tanto pelo ser humano como pelos computadores que vasculham as páginas da Rede" – como sendo a próxima onda (ok, web 3.0 se você preferir). Sem dúvida é o primeiro passo.
Se eu pudesse escolher, gostaria que a internet do futuro, além de interativa, portátil e sob demanda, fosse muito mais falada, ouvida e vista, do que simplesmente digitada e lida. Sem dúvida estaremos contribuindo muito para tornar o dia-a-dia das pessoas mais simples. E dos publicitários também.
Nenhum comentário:
Postar um comentário