23 de jul. de 2007

Censura na propaganda

Um casal tenta diminuir o peso do carro na subida de uma ladeira. Depois de arremessar objetos pela janela sem ganhar velocidade, o marido decide se desfazer da sogra, que está no banco de trás. O comercial criado pela Euro RSCG para a Peugeot não agradou as sogras brasileiras, que reclamaram junto ao Conar - Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária. Para Jader Rossetto, vice-presidente de Criação da Euro, o caso é um exemplo de censura à propaganda. Agência e anunciante lançaram, então, uma paródia à declaração de Marta Suplicy sobre a crise aérea no País. Para promover as vendas da montadora no varejo, um ator travestido de ministra do Turismo dá a dica: "Relaxa e compra". O comercial também teve problemas e foi retirado do ar 48 horas após o início da veiculação. A mídia aponta que o motivo tenha sido um pedido do presidente da República, Luis Inácio Lula da Silva.

"Os casos exemplificam uma atitude retrógrada, que compromete a liberdade de expressão e a propriedade intelectual", disse Rossetto em entrevista ao Adnews. O publicitário acredita que não se devem impor limites à criação, pois eles impedem as agências de trabalhar. "A propaganda brasileira está acanhada", afirma. O Conar, no entanto, defende que faz parte de sua missão "promover a liberdade de expressão publicitária".

Recentemente, F/Nazca e Skol caíram na rede do Conselho. O comercial "Pelado na praia" (assista aqui) foi suspenso após denúncia da Schincariol, sob alegação de agressão aos "padrões de decência, atentando contra os bons costumes". A McCann Erickson também já enfrentou o Conar, em campanha para Sprite (veja aqui). O filme, que mostrava um garoto lambendo o gargalo da garrafa de refrigerante da amiga, foi retirado do ar por "fazer apelo excessivo à sensualidade" e "desrespeitar os limites éticos".

Mas as restrições também podem trazer efeitos positivos. A polêmica envolvendo a proibição de "Relaxa e compra" gerou cerca de 90.000 visualizações do comercial no site de vídeos YouTube (clique para assistir). A repercussão permitiu divulgação gratuita e aumento nas vendas do anunciante. "Com a Internet e as novas tecnologias, ninguém segura a informação", diz Rossetto. Já o filme "Sogra" (assista aqui), apesar dos bons resultados comerciais, alcançou um recorde negativo. Cerca de 100 pessoas registraram queixa no Conar, que costuma receber até 10 reclamações por campanha. O fenômeno se explica pelos comentários da apresentadora Ana Maria Braga, que divulgou o endereço do Conselho na Internet durante o programa "Mais Você", da Rede Globo. O objetivo era fazer com que o público protestasse contra as cenas de arremesso de objetos nas ruas.

A propaganda é o alvo

Rossetto acredita que a publicidade tem se tornado alvo de críticas a situações que surgem também em outros contextos. A sogra, por exemplo, é um tema clássico das piadas brasileiras. Ele lembra que a sátira à ministra Marta já tinha surgido no programa "Casseta & Planeta", da Rede Globo. "As pessoas escolhem a propaganda para bater", diz.

Na visão do publicitário, a inibição da publicidade é um reflexo da apatia que acomete a população brasileira. "O País está retraído", afirma. "A baixa mobilização em relação ao acidente com o avião da Tam mostra como as pessoas se enxergam menores do que realmente são". A principal influência desse cenário sobre a propaganda é, para Rossetto, a falta de coragem. "O que vemos hoje é uma atitude corajosa em mil. A inovação deveria ser incentivada, não reprimida", conclui.


Fonte: Adnews

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