17 de ago. de 2007

A falta de first life nas agências

Muita gente que trabalha em propaganda tem feito uma autocrítica: a propaganda brasileira não é mais a mesma. Falta a emoção, faltam aquelas campanhas memoráveis que nos faziam rir, chorar e ficar cantarolando o jingle. Em internet, isso é ainda pior: você se lembra de uma campanha online brasileira que entrou para a história? Daquelas que sua família comenta com você no almoço de domingo?

Existem muitos motivos para isso: a pressão por resultados, a impossibilidade de errar, a quantidade enorme de idéias que é usada todos os dias. Mas um dos grandes motivos que tenho visto é a falta de first life nas agências.

Uma idéia é semelhante a uma receita. Você pode fazer desde um prato básico que funciona até experimentar algo novo que surpreende. Mas para conhecer os “ingredientes” que estarão no seu anúncio ou campanha, você precisa ter referências na vida real. Algo que os publicitários têm cada vez menos tempo para buscar.

Passando cada vez mais tempo nas agências, não sobra tempo para conviver com outras pessoas e, consequentemente, ter emoções e sentimentos. Imagine quantas boas idéias aparecem, por exemplo, do convívio com um filho? Em uma ida a um restaurante, observando as pessoas ao seu redor? Até mesmo a tristeza pode ser inspiradora - quantas músicas incríveis não vieram desse sentimento?

Com a falta de tempo, as pessoas também não conseguem buscar referências em seus momentos de lazer: um filme, uma peça, uma exposição, até mesmo uma revista de fofocas. O máximo que conseguem fazer é trocar playlists no trabalho para ouvir as músicas que os outros estão ouvindo.

Outro ponto que faz muita falta é a atualização. Olhe para as pessoas que trabalham perto de você. Pergunte qual o último curso que fizeram. Se têm a intenção de fazer uma pós-graduação. Médicos e advogados estão sempre se atualizando para ficar por dentro das novidades. E os publicitários?

Existe mais um fator, muito polêmico, que envolve duas gerações de publicitários. Os publicitários de uma geração reclamam que não existe mais o conceito, o rascunho. Dizem que tudo é feito na tela do computador, na base do acerto e erro, e que por isso perde-se tempo na execução ao invés de perder na concepção. Os publicitários da nova geração defendem-se dizendo que é o modo deles pensarem.

Além da falta de campanhas marcantes, um grande sintoma de todos esses fatores são as coincidências: com fontes de referência em comum, ou com a falta dessas fontes, os trabalhos acabam mesmo muito parecidos.

Quem não lê, não escreve. Quem não folheia livros de arte não consegue fazer um bom layout. O Google, por exemplo, permite que seus funcionários usem até 20% do seu tempo de trabalho em projetos pessoais. Claro que as agências não podem se dar a esse luxo, mas não é uma idéia interessante colocar um pouco mais de first life em nossa vida?

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