25 de out. de 2007

Executivos já recusam ofertas de emprego de empresas sem compromisso social, avisam headhunters

Talvez você conte com os dedos de uma mão só o número de conhecidos seus que disseram ‘não’ a uma proposta de emprego. Ou talvez não conheça nenhum. Mas, segundo headhunters, essa prática tem se tornado comum de tempos para cá. Cada vez mais pessoas estão preocupadas não somente com o que suas empresas produzem, efetivamente, mas também com os valores que elas transmitem para funcionários e a comunidade local.

Essa inquietação está dando início a um fenômeno interessante: a recusa por propostas de trabalho a depender do nível de responsabilidade social da empresa contratante. A cobrança é ainda maior por parte de quem está atualmente empregado, de acordo com Benedito Borghi, diretor da consultoria Lopes & Borghi. Ou seja, para ‘roubar’ alguns talentos de outras companhias, também é necessário ter um currículo de atuação responsável aos olhos dos candidatos.

Segundo o diretor, o número de pessoas que recusa uma proposta de trabalho melhor, em termos de salário e benefícios, está crescendo consideravelmente, apesar de ainda ser muito baixo. A maioria, por sua vez, é formada por profissionais que ocupam cargos muito altos ou a partir da média gerência e estão empregados. “Estes executivos estão preocupados com o que a empresa faz, qual o nível de responsabilidade social, se cumprem e seguem códigos de ética bem definidos, etc.”, diz Borghi.

O headhunter conta um caso que presenciou em 2000. Na época, ele convidou um executivo para assumir a vaga de diretor-presidente de uma multinacional norte-americana. “Ele me disse que só sairia da empresa em que estava se a nova companhia tivesse algum tipo de programa de responsabilidade social implantado ou em vista”, comenta. Como esse não era o caso, o profissional preferiu negar a nova oportunidade, mesmo com os benefícios que o novo cargo oferecia.

Para consultores como Borghi, apenas uma marca forte no mercado e um nome de peso nem sempre são suficientes para atrair bons colaboradores. Eles procuram colaborar com a sociedade, se atrelando a companhias com valores sociais. “Pode parecer estranho, mas existem executivos que consideram os valores corporativos, como respeito aos empregados e integridade, requisitos muito fortes”, explica o consultor. A estranheza se dá porque em muitos casos, há vícios corporativos que ainda permeiam as vidas dos profissionais, como companhias que dão pouco valor à cultura organizacional ou não se preocupam com questões relativas à governança.

Mais seletivos

Segundo a gerente de Search da consultoria de recolocação Acalântis, Luciane Totoli, vários são os casos de entrevistados que desistem de processos seletivos por não se identificarem com a cultura da empresa ou com o perfil da liderança. Pelo que ela tem observado, os candidatos estão cada vez mais seletivos e questionadores em relação aos contratantes, apesar do grande nível de competição do mercado.

Borghi conta, entretanto que muitos profissionais se frustram com empresas que vendem uma postura, mas na prática adotam outra. O consultor alerta que não foram raras as ocasiões em que candidatos aceitaram empregos em companhias e se depararam com um ambiente e cultura organizacionais bem diferentes do que foi tratado durante a negociação. Isso já aconteceu com o diretor de tecnologia Rogério Santana: “Tentei a adaptação por cinco meses e logo após pedi demissão; mas essa foi uma das minhas experiências mais enriquecedoras”, ressalta.

Ele, que atualmente está empregado, continua buscando por novas oportunidades no mercado, porém, acredita que, atualmente, deve avaliar uma proposta de trabalho de um ponto de vista mais amplo, que ultrapasse a questão da remuneração. “É muito importante questionar itens como liberdade de atuação e criação, comprometimento com o quadro de colaboradores, oportunidades de crescimento profissional e pessoal”, diz. Outro ponto que costuma avaliar é o compromisso da empresa com a sociedade (local, nacional e mundial).

Segundo Santana, fazer parte de uma empresa que tem valores humanistas traz mais motivação para os colaboradores, independentemente do nível ocupado na hierarquia corporativa. “Significa que a companhia preocupa-se com o todo e não apenas com o negócio em si”, diz.

Se antes salário e benefícios eram as estrelas da negociação com uma empresa, hoje já não são suficientes. É hora de atentar ao que as pessoas da organização estão querendo para não perder talentos.

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