19 de ago. de 2008

Soluções para a crise da velha mídia

Na reconstrução dos jornais na era digital há dois cenários possíveis: o do Titanic -o navio que afunda - e o da abertura do Mar Vermelho para a passagem da "velha mídia" rumo à era digital. Para ninguém se precipitar, o mercado de jornais sugere três conselhos aos donos do negócio: seguir "cozidos" na panela em fogo brando e acordar um dia mortos; investir muito em tecnologia, computação e mudar os negócios com foco em conteúdo on line ou vender a empresa. "Os jornais têm culturas muito arraigadas. É preciso quebrar os horizontes. O Grupo Ganett (que publica o USA Today e mais de uma centena de companhias de mídias) anunciou corte de mil postos de trabalho que representa 3% da força de trabalho. O que mais cresce no Ganett é um site para mães. A gente sempre diz que não vai fazer isso e aquilo mas é preciso mudar. Os jornais americanos publicaram anos e anos listas de ações na bolsa de valores. Quem vai esperar até o outro dia para ver quanto vale a ação. Nos Estados Unidos, não existe mais a exclusividade em reportagens para jornais impressos. As notícias vão para o online imediatamente", afirma o diretor do Knight Center para Jornalismo da Universidade do Texas (Austin), Rosental Calmon Alves, em palestra no 7º Congresso Brasileiro de Jornais da Associação Nacional de Jornais (ANJ), no World Trade Center.

O especialista em comunicação cita cases de jornais americanos que refletem as extremas mudanças pelas quais passam as companhias de mídia nos Estados Unidos. O Washington Post conseguiu amenizar a queda das ações em bolsa de valores com a compra de uma empresa de serviços educacionais Kaplan, o que animou os investidores. "No Washington Post também caiu o último bastião das redações separadas do jornal impresso e on line. As duas redações ficavam em lados opostos do rio Potomac (na cidade de Washington). Agora serão unificadas. Só não se sabe quem vai para o outro lado do rio".
O Los Angeles Times divulgou forte plano de reestruturação neste ano para treinamento de pessoal. O Miami Heralds, em 2006, redefiniu cargos para priorizar a área digital. O Atlanta Journal chegou a alterar o logo para A.J.com. O caminhão, incluído no logo da companhia, representa que o jornal é apenas uma entrega dos serviços editoriais pontocom.
Longe da crise dos jornais americanos, a indústria brasileira abre a janela participativa do leitor na era digital. "O leitor com um celular na mão tem potencial jornalístico. Quer ver a opinião dele no jornal. A gente estabelece um diálogo e firma um compromisso de pertencimento", afirma o editor-executivo de interatividade do Globo Online, Aloy Jupiara.
O Infoglobo criou na internet o canal "Eu Repórter", espaço para textos e fotos jornalísticos enviados pelos internautas. As reportagens também são utilizadas em duas páginas na edição impressa. Há dois anos os acessos mensais eram 3 mil. Atualmente, chegam a 80 mil por mês.

Jeito brasileiro

Para Calmon Alves, o Brasil tem algumas características diferenciadas de outros mercados. Os portais dos grandes comunicação têm boa parte da audiência na internet. "No mundo todo é muito dífícil ter os antigos líderes de mercado dominando as novas tecnologias. No Brasil, também vai acontecer isso. Mas o mercado tem algumas diferenças. Quando você paga um provedor de internet, tem o provedor de conteúdo atrelado. Em outros países não há essa lealdade. O cliente é livre para escolher o provedor de conteúdo que desejar. A TV no Brasil é extremamente concentrada. Mas está caindo esse poder de distribuição com os conteúdos on demand. O telespectador pode assistir onde, quando e como quiser" O recado do professor para os jornais do Brasil, principalmente os regionais é: "antes que algum aventureiro faça algo novo na internet, faça você".

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