Está por toda parte. Impossível não ver. Ele mudou. E mudou com ele todos os conceitos que o cercam. Rompeu com a comunicação. Destroçou e depois fez brilhar a indústria da musica. Arrombou as portas de emissoras de TV e roubou a cena dos principais shows. Transformou o controle remoto numa arma letal contra comerciais chatos e invasivos. Passou a concorrer, sem pudores, com veículos de mídia e saqueou boa parte de suas audiências. Deixou publicitários sem sono e sem referencias, dando um banho de espetáculo com a criatividade simples do cotidiano. Fez jovens gênios (e nerds) enriquecerem da noite para o dia. E velhos empresários perderem seu chão com a mesma velocidade. Senhoras e senhores, apresento-lhes o responsável por tudo isso. Dêem boas vindas ao Consumidor 2.0.
Falar de Web 2.0 e do futuro da comunicação digital sem ilustrar esse personagem é miopia. É não querer dar o crédito para o grande responsável por tudo isso. Ele nasceu há pouco menos de 300 anos com as mudanças progressivas que explodiram com a Revolução Industrial. Novos desejos e novas perspectivas de consumo brilharam pela primeira vez aos olhos de quem até então não via graça em consumir. Era tudo cinza, sem sabor, sem desejo, sem aspiração. Veio o dinheiro, os bens de consumo. O mundo ficou mais competitivo. O dinheiro foi trazendo poderes. Poder de escolha. Poder de status social. Poder de diferenciação. E, mais tarde, com as ferramentas de comunicação digital (duas vias), o poder de intervenção.
Com esse mesmo poder, anos depois, na música, veio a democracia. Ela roubou o papel de tastemaker dos principais canais especializados e colocou as bandas e artistas para serem discutidos pelo grande grupo em ferramentas como o Last.FM e o MySpace. Com Gnarls Barkley e o hit “Crazy” fez, em 2006, com que, pela primeira vez na história, um artista atingisse o topo das paradas britânicas sem sequer ter vendido um CD. Um marginal da indústria fonográfica. Descobrir um banda virou exercício diário e pessoas tomaram o lugar de distribuidoras. Ser popstar passou a ser mais complexo do que era há 20 anos atrás. Muitas variáveis. Muitas pessoas aplicando filtros e exercendo o seu poder.
É exatamente dessa tomada de poder que falo. Dos conhecidos direitos do consumidor. Direitos que crescem a cada dia e afrontam marketeiros desavisados. “Quem são eles para interferir no meu produto?” Meu caro, são eles, os donos do seu produto. Logo você terá que comprar mídia de seu consumidor. Desse mesmo, o tal de 2.0. Já parou para pensar nisso? Mas cuidado para ele não pensar que você, na verdade, está querendo comprá-lo. O consumidor 2.0 não quer apenas assistir ao show. Quer fazer parte dele.
A máxima de McLuhan “O Meio é a Mensagem” é perfeita para essa analogia. O consumidor virou a mensagem, virou o meio. Ter um blog passou a ser o maior exercício de poder do nosso personagem. Embora muitos deles ainda não tenham se dado conta, o poder inerente dos conglomerados de mídia está se transferindo para conglomerados de consumidores. Redes de blogs que têm um poder de alcance acima do que os números podem justificar. Influenciam. São verdadeiras. Presas apenas a espontaneidade. E, com um clicar de mouse são capazes de destruir marcas e produtos assim como consagrá-los. É disso que estou falando. Influenciar com produtos ruins será cada vez mais difícil. Comprar mídia, um exercício complexo e relativo. É preciso entender que a hierarquia da mídia está mudando e a formação de opinião acontece no coletivo. Se espalha através de pessoas reais, com sentimentos reais e fortes convicções a respeito do que é bom ou ruim para elas.
E é exatamente nessa parte que entra a comunicação digital. A responsável por amplificar tudo isso. Uma arma para esse consumidor conhecidamente poderoso mas nem sempre compreendido. Um consumidor de crenças e vontades de 300 anos e que agora, pela primeira vez na história, detém ferramentas digitais que o possibilitam exercê-las. E assim como é impossível prever o futuro e a velocidade das tecnologias de comunicação, é difícil prever onde esse consumidor estará no futuro e qual será o seu nível de influência sobre a comunicação como conhecemos hoje.
Um ensaio sobre o futuro? Simples, é com a comunicação digital que acontecerá a massificação desse personagem principal. Como num toque de mágica, até a Dona Maria será 2.0. O seu poder vai aumentar e as marcas vão ter que se associar a ela e estabelecer uma relação de cumplicidade. Não há espaço para disputas, apenas cumplicidade. Marcas sendo carregadas por exércitos de consumidores ou destroçadas pelos mesmos. As empresas vão ter que se curvar ao poder dos consumidores que mais as admiram e encontrar ferramentas que transfiram e dividam o poder de decisão com eles. Se é para falar de New Media, são eles sua nova mídia. Por tanto, trate-os bem.
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